Para obter uma cobertura ideal, municípios e estados precisarão trabalhar em conjunto com as empresas, modernizando as leis que regulamentam a instalação de antenas de telefonia e permitindo a instalação de mais antenas em locais públicos.
Em 2021, Jeff Bezos despediu-se do cargo de CEO da Amazon. Em uma carta aos 1,3 milhão de funcionários contou que, no início, há cerca de 27 anos, a pergunta que respondia com mais frequência era: “O que é a internet?”. Lembrou que há pouco mais de 15 anos respondia sobre “O que é esse tal de Orkut?” E hoje, “O que é Smart City?”, “Como funciona o 5G?” se repetem com a mesma frequência.
Quando fazemos uma retrospectiva percebemos que o avanço da infraestrutura para telefonia móvel foi determinante para a adoção de novas tecnologias pela população. O consumidor experimentou ao longo dos anos diferentes tecnologias de acesso à internet desde a discada, as redes Banda Larga e a Internet Móvel com o CDMA (2G), GSM (3G) e WCDMA (4G). Hoje, o mundo experimenta a tecnologia 5G.
A quinta geração da rede de internet móvel tem velocidade que chega a ser até 100 vezes maior do que o restante dos sinais. Um teste realizado pelo The Wall Street Journal mostrou que baixar uma playlist de 1 hora no Spotify demorava cerca de 7 minutos com o 3G e 20 segundos com o 4G. Com o 5G, esse tempo chega a 0,6 segundos.
Mas a grande revolução que o 5G traz vai além da alta velocidade. A baixa latência garante comunicação em tempo real: a rede 5G também possibilita comunicações sem atraso. Por exemplo, um neurocirurgião que está em Curitiba poderá realizar uma operação em tempo real em um paciente nos Estados Unidos. Novos mercados estão se abrindo por causa da tecnologia 5G, novos empregos e muitas mudanças tecnológicas em todos os segmentos. Saúde, educação, agronegócio… os equipamentos conectados na Internet das Coisas (IoT), carros autônomos e drones serão mais acessíveis e terão escala.
No entanto, a implementação da rede 5G exige uma infraestrutura complementar e/ou diferenciada da usada para o 4G. A internet 5G utiliza ondas milimétricas de alta frequência, que não alcançarão a distância das ondas de baixa frequência do 4G. Além disso, sofrerão impacto de obstáculos como paredes, prédios e torres nas cidades. As operadoras precisarão instalar uma quantidade maior de antenas para a cobertura geográfica e, muitas vezes, precisarão de novas bases de conexão.
Em dezembro último, estive em Natal no lançamento do Conecta 5G, projeto do Ministério das Comunicações e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial para testar antenas acopladas dentro de luminárias públicas de última geração nas cidades de Jaraguá do Sul, Ceará-Mirim, Petrolina, Araguaína e Curitiba.
É um começo para enfrentar os novos desafios para as cidades. Para obter uma cobertura ideal, municípios e estados precisarão trabalhar em conjunto com as empresas, modernizando as leis que regulamentam a instalação de antenas de telefonia e permitindo a instalação de mais antenas em locais públicos. Fabricantes e operadoras precisarão buscar opções tecnológicas para resolver questões locais para alcançar o máximo de qualidade e disponibilidade.
No leilão de 5G do Brasil, os principais lotes foram ligados às frequências de 700 MHz, 2,3 GHz e 3,5 GHz (a mais usada no mundo). Agora, todas as empresas precisam investir na implementação do 5G a partir das faixas de frequência que obtiveram, com concessão de 20 anos. As faixas de 27.5 e 27.9 GHz também estão disponíveis e serão mais usadas pelo setor produtivo e beneficiam em especial a indústria 4.0.
Apenas algumas cidades brasileiras estão aptas para a tecnologia 5G. A exigência do leilão é que as operadoras iniciem a oferta da tecnologia em todas as capitais brasileiras até o dia 31 de julho de 2022, mas depende de adequação de legislação, infraestrutura e potencial de mercado. Já para os outros municípios, a realidade do 5G deve levar mais alguns anos, o prazo para implantação em todos os municípios é 2029. Mais um desafio para as smart cities: o abismo social se agrava com o abismo digital. O ecossistema de inovação nacional precisa se unir e encontrar maneiras de promover, incentivar e investir em conectividade de última geração para todas as regiões, com atenção a privacidade, interconexão, inclusão e alfabetização digital – além da própria tecnologia.
Então, quando nos perguntarem sobre Blockchain, Inteligência Artificial, Metaverso teremos, além de uma resposta teórica, uma resposta prática com ações e prazos para implementação em nossos municípios.
E por mais que sejam temas complexos, os países ocidentais estão um passo atrás nessa discussão. Em novembro de 2020 a China enviou ao espaço um satélite de testes para internet 6G. A expectativa é que a conexão possa estar disponível em 2030 e que a internet 6G seja até 100 vezes mais veloz do que o 5G.
Uma equipe de um laboratório na cidade de Nanjing uniu a tríplice hélice (indústria, academia e governo) para construir o primeiro sistema experimental de comunicação de transmissão 6G em tempo real a uma taxa de 360-430GHz a 3 THz, considerado o mais rápido do mundo. A tecnologia 6G vislumbra a comunicação sem fio de alta velocidade entre conjuntos de satélites, entre o céu e a Terra e veículos aéreos não tripulados.
E assim caminhamos nesses tempos – tudo acontece rápido, muda rápido e exige respostas assertivas e rápidas. Estejamos preparados.
¹ Internet ligava a linha telefônica diretamente no computador e acessava via um provedor de internet.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Consultora de Inovação e Transformação Digital; Palestrante. Conselheira. Investidora Anjo; Diretora de programas da Funpar – UFPR. Mãe do Victor e da Marina. Maratonista. Ex-Presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação e do Conselho Municipal de Inovação. Co-fundou e presidiu o Fórum InovaCidades ligado à Frente Nacional de Prefeitos. Atua no Conselho de Mulheres na Tecnologia.