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COMO MEDIR INTELIGÊNCIA

Leandro Garcia
Leandro Garcia
Leandro Garcia é o atual Diretor-Presidente da Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel) e atual Presidente da ANCITI – Associação Nacional das Cidades Inteligentes, Tecnológicas e Inovadoras. Professor de cursos de pós-graduação no Instituto de Ciências exatas e Informática da PUC Minas. Bacharel em Sistemas de Informação, pós-graduado em Gestão de Saúde Pública e em Engenharia de Software, especialista em Machine Learning e mestrando em Informática. Membro do conselho técnico-cientifico do BHTec, vice-presidente do conselho da Fundação Mineira de Software e consultor do Instituto Smart City Business América.

Estamos referindo ao cidadão como ser pensante e participante da vida na cidade. Cidades inteligentes devem criar o ambiente propício para aprimorar habilidades cognitivas, seja de aprendizado, inovações e lazer.

O Cities in Motion Index, do IESE Business School, na Espanha, aponta 10 dimensões que indicam o grau de inteligência de um município. São eles: governança, administração pública, planejamento urbano, tecnologia, meio ambiente, conexões internacionais, coesão social, economia e capital humano. Entre a dezena apresentada, uma diz respeito a excelência de uma Cidade Inteligente, Sustentável ou até mesmo Digital – outra nomenclatura recorrente. Diz respeito ao capital humano. Ou alguém pensa que o termo se relaciona exclusivamente à mão de obra? As cidades estado gregas, as polis, conhecidas desde o século VIII a.C. representam a base do conceito das cidades que conhecemos hoje. Então, mesmo passando por milhares de anos, nossas cidades abrigam a mesma condição: o cidadão. Por isso, cidades criativas e sustentáveis, usando a tecnologia em seu planejamento, não podem prescindir da participação do cidadão.

Estamos referindo ao cidadão como ser pensante e participante da vida na cidade. Cidades inteligentes devem criar o ambiente propício para aprimorar habilidades cognitivas, seja de aprendizado, inovações e lazer. É o espaço da colaboração individual e coletiva e, em se tratando de tecnologia, pensar em espaços para operar de forma criativa. Estamos falando de colaboração, interface de habilidades individuais, de sistemas de informações, mesclando criatividade e coletividade.



Saberes compartilhados, experiências que podem criar soluções para os problemas comuns na vivência em uma cidade. Mas, quem pode apresentar essas soluções? Logo pensamos nas constituições de proposições por parte de quem pesquisa, estuda, ou tem acesso ao aprofundamento científico. Não se mede grau de inteligência pelo tempo de estudo e dedicação acadêmica. É o que atestamos com as múltiplas inteligências. Referências pessoais, afetivas, sociais estão intimamente relacionadas nesse processo. Por isso a cognição, elaborada mediante o estudo, a dedicação acadêmica, não pode repelir as inferências pessoais, sejam pela razão ou emoção das vivências do sujeito.

No programa Inclusão Digital BH, uma das muitas iniciativas da capital dos mineiros na excelência tecnológica, obstinados em levar internet gratuita e de qualidade para todas as vilas, favelas e conjuntos habitacionais da cidade. Serão beneficiadas mais de 370 mil pessoas e suas famílias, através da implantação de 2100 pontos de wi-fi gratuitos em 218 vilas e favelas, além da criação de 9 centros de referência em inclusão digital com a realização de cursos de TI’s.  A população poderá contar, ainda, com a entrega de dispositivos portáteis recondicionados para os alunos que não possuem equipamentos com acesso à internet. No total, serão 15.790 vagas nos cursos de formação e capacitação.

A Vila do Índio, localizada na região de Venda Nova, foi a primeira favela a receber o projeto. A equipe da Prodabel fez todos os estudos, esteve diversas vezes na vila, fez testes de conexão nas áreas coletivas e até mesmo nas casas dos moradores para garantir a qualidade da recepção do sinal de wi-fi. Mas foi um morador da vila, pedreiro, sem curso na área da tecnologia ou qualquer outra vivência no ramo da TI que mais contribuiu no processo: ele parou seu carrinho de mão carregado de material de construção diante dos nossos técnicos e alertou para mudanças fundamentais no cadastro da página de acesso e comentou quais eram as maiores dificuldades dos moradores para acessar internet. Talvez os estudiosos da TI não reconheçam esse morador como um gênio da tecnologia, mas sua abstração e compreensão da realidade foi a inteligência mais segura para que o nosso projeto conseguisse excelência na vida.

Miguel de Cervantes escreveu com Dom Quixote no século 17 e sequer sonhava com os avanços da tecnologia em nossas cidades. Ele colocou na boca do solitário cavaleiro uma frase que representa bem o caso narrado acima: “Só quem faz mais do que outrem é mais do que outrem”. Sem diploma, o pedreiro fez muito bem pela cidade. Ainda bem que a tecnologia, naquele dia, deu espaço para ele demonstrar que a despeito do avanço da ciência, o conhecimento não pode prescindir da experiência na vida de cada cidadão.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities 

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