Encaixar uma solução em um problema pode até funcionar em certos casos, mas o impacto positivo e significativo gerado de uma solução pensada e testada a partir do problema, é sempre garantido
Quando pensamos na criação de novas soluções, sejam elas de serviços ou produtos, o primeiro ponto que aparece é “qual problema essa solução resolve?” – isso se dá porque o valor agregado de uma solução está diretamente relacionado à sua capacidade de resolver desafios complexos. Com isso em mente, podemos destacar três principais motivos para focar no problema, e não na solução, na hora de idealizar, testar e operar seu serviço ou produto:
- A gente só resolve o que conhece: Precisamos conhecer profundamente uma realidade para pensá-la e sugerir intervenções nela. Devemos conhecer a origem do desafio, como ele se desenvolve e quais efeitos são gerados a partir dele. Com essa noção de interferências causais, é possível priorizar e fragmentar os problemas, tendo maior visibilidade de qual será o problema central em nosso recorte, ou seja, o que vai ser atacado diretamente pelas soluções que serão desenvolvidas. Conhecer o problema é o primeiro passo da possibilidade criativas de desenho de soluções, envolvendo também critérios de localidade, atores envolvidos, públicos afetados e soluções concorrentes e complementares do ecossistema. Partindo do princípio que a solução precisa endereçar diretamente o problema, para ser considerada efetiva, vamos ao segundo ponto.
- Demanda de mercado importa: É necessário conhecer o quão relevante é o problema em questão dentro do ecossistema que o compreende, para pensarmos o quanto prioritário ele é em sua agenda, para avaliarmos seu potencial de acesso a recursos que possibilite a sustentabilidade financeira da solução que será pensada; e o quanto é possível projetar de interesse de sua utilização, independente do seu formato. Este ponto se bifurca: Precisamos entender, em primeiro lugar, se o problema é prioritário para o público inserido no seu contexto, mesmo que para alguns segmentos; e em segundo lugar se a resolução deste problema tem potencial transformador de uma realidade experimentada de forma direta. Quando falamos em demanda de mercado, é preciso pensar na validação da solução enquanto direcionada ao problema. Isso representa que a solução deve trazer uma boa forma de resolução do desafio destacado para garantir sua viabilidade financeiramente e operacional em comparação às demais soluções complementares ou concorrentes temáticas de interessante para os públicos-alvo envolvidos. Neste ponto o valor agregado da solução se relaciona com seu potencial de mudança.
- Um problema sempre puxa outro problema: Ou invertendo, uma solução sempre puxa outra solução. Quando falamos de agendas multisetoriais e de problemas sócio históricos estruturais, para os quais ainda não existe solução aplicada – ou então que as soluções desenvolvidas até o momento não o resolvem em sua totalidade, temos que considerar a sua natureza complexa. E a complexidade se dá pelas diversas interferências atreladas ao problema central e às temáticas nas quais ele está inserido, que em muitos casos pode representar a necessidade de atuação em rede para resolução, envolvendo mais de uma solução. Quando resolvemos uma fração de uma problemática, que tem um si uma natureza complexa, é possível observar novas dinâmicas e outras problemáticas, que ficam mais evidentes e podem intensificar a demanda por novas soluções. Soluções de diferentes naturezas sobre a mesma temática podem ser complementares, proporcionando mudanças reais da realidade experimentada.
Com isso, podemos concluir que o desapego é a palavra de ordem. Encaixar uma solução em um problema pode até funcionar em certos casos, mas o impacto positivo e significativo gerado de uma solução pensada e testada a partir do problema, é sempre garantido.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Doutora e mestre em Psicologia Social, com mais de 10 anos em Inovação Pública e Impacto Socioambiental. Fundadora da Ecossistema de Impacto e Cofundadora do Delibera Brasil. Atuou em organizações como PNUD, ENAP, Instituto Akatu e ADE SAMPA. Responsável pela criação e gestão de 7+ hubs de inovação, 12+ maratonas de desenvolvimento de soluções e 10+ programas de ideação, incubação e aceleração. Pesquisadora em Inovação Pública pela PUC/SP e parte da Conexão Inovação Pública, da Coalition for Digital Environmental Sustainability/ONU e da Rede de Advocacy Colaborativo. Conselheira Potências Periféricas e Instituto InovaBR. Mentora ABStartups, BrazilLab, s-lab e Sebrae.