É preciso evidenciar cada vez mais a quantidade de oportunidades que temos para promover a mobilidade urbana em nosso território.
Em eventos e debates noto que cada vez mais há representantes de todas as partes do mundo que contam como estão se desenvolvendo na criação de novas formas de mobilidade urbana, e tenho a sensação de que estamos estacionados no tempo. É preciso evidenciar cada vez mais a quantidade de oportunidades que temos para promover a mobilidade urbana em nosso território, sem deixar de alertar o quão difícil é tirar um projeto do papel em cidades planejadas para carros, sem preocupação com as demais alternativas.
Não é coincidência que o termo “Cidades Mil” criado pela Unesco, em 2018, engloba todas as inovações que uma cidade pode receber para facilitar a vida dos seus habitantes e, claro que micromobilidade tem tudo a ver com o conceito. A partir das Cidades Inteligentes, de como a tecnologia impacta a sociedade, as Cidades Mil acrescentam a participação de novos stakeholders para juntos criarem uma cidade mais ética, sustentável, crítica e criativa sem se esquecer da responsabilidade que todos têm sobre os impactos sociais que provocam.
Globalmente falando, de fato, estamos vendo evoluções. Como a Urban Mobility Partnership (UMP) que buscou,em outubro deste ano, o Chanceler do Tesouro do Reino Unido, Rishi Sunak, para fornecer um financiamento de longo prazo de cerca de 190 milhões de libras para a criação de novos sistemas de transporte de viagens sustentáveis, com objetivo de começar a distanciar os cidadãos dos veículos privados e com isso, incentivar a integração modal entre bicicletas – e outras formas de mobilidade ativa – com o transporte público.
Embora o espaço urbano esteja completamente relacionado à sustentabilidade, vamos pegar apenas esse segundo tema para ilustrar o acordo fechado em Nova York, por exemplo, uma das maiores metrópoles que mais emite CO2 no mundo, anunciou recentemente que o estado não venderá mais carros movidos a combustível a partir de 2035. Além disso, o estado da Califórnia decretou em setembro deste ano que a partir de 2030 vai exigir veículos de zero emissão de carbono. As decisões fazem parte da agenda ESG que vem sendo discutida nos encontros da ONU.
Para essas grandes decisões, vêm junto enormes planos – já em desenvolvimento – de estrutura urbana que comporte mais modais ativos, além de novos centros verdes para a circulação de pessoas. Mas no Brasil, o que estamos vendo? Aqui na Tembici, estamos sempre inquietos, anunciando melhorias, novidades e parcerias com as cidades em que atuamos. Contudo, precisamos sempre estar apoiados nas políticas públicas – como expansão das ciclovias e ciclofaixas, investimento em sinalização e manutenção periódica dos espaços – para dar o suporte completo aos usuários. E apesar do bom relacionamento e conquistas que temos ao longo dos anos, ainda há um caminho a percorrer.
Um exemplo disso, é a implantação da ciclofaixa na Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo. A estrutura na rua Luís Góis só teve início após muita discussão com a Prefeitura, acontece que pouco depois a obra foi interrompida, mas consta como inaugurada em 2 de fevereiro. Mesmo com sinalização somente para bikes, ainda não existe a faixa lateral vermelha no espaço de circulação e nem tachões, inclusive, há carros que, provavelmente encorajados pelo não funcionamento correto da via, estacionam ali.
Para expandir a mobilidade urbana, é muito importante que os investimentos privados estejam acompanhados de avanços na implementação de projetos por parte do poder público. Para 2022 e os anos seguintes, esperamos mudanças concretas, estamos lutando por aqui e contando com o apoio de novos parceiros, investidores, cidadãos e especialmente o poder público. Como otimista que sou, entendo que há um caminho longo a percorrer, mas vejo no engajamento da sociedade o caminho para solucionarmos essas questões. A moção dessa corrente trará cada vez mais incentivos para o desenvolvimento da mobilidade sustentável, da democratização dos espaços públicos e redução das emissões de CO2, para proporcionar um planeta melhor para as futuras gerações.
Com informações da Assessoria de Imprensa
Sócio-fundador e COO da Tembici, empresa líder em micromobilidade na América Latina. Especialista em mobilidade urbana e precursor da entrada da tecnologia de bicicletas compartilhadas com estações no Brasil, tendo criado e implementado o projeto PedalUSP, o primeiro sistema de compartilhamento de bikes da Universidade de São Paulo.