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ONDE ESTÃO AS MULHERES? – INTEGRAR A PERSPECTIVA DE GÊNERO NO DESENVOLVIMENTO URBANO

Sarah Habersack
Sarah Habersack
Diretora do programa Transformação Urbana da cooperação técnica Brasil-Alemanha da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, onde coordenou, junto ao Ministério de Desenvolvimento Regional, a formulação da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes. Especialista em mudança organizacional, desenvolvimento urbano e transformação digital, com atuação na Índia, Europa e no Brasil.

Você alguma vez notou quantas ruas, parques, pontes e praças na sua cidade são nomeadas de mulheres? Poucas? Nunca reparou?

Nomes de espaços urbanos são mais simbólicos e têm pouco impacto prático na nossa vida. Mas o fato que a maioria dos espaços que usamos todos os dias têm nomes de homens mostra quanto a nossa realidade desde sempre é um produto de um sistema patriarcal. E o fato que nem reparamos mostra quanto isso faz parte da nossa normalidade. 

Na cidade de Viena, em alguns novos bairros, todas as ruas só podem ser nomeadas por mulheres – pessoalmente gostei muito da Avenida Janis Joplin. Isso seria só uma melhoria de aparência se não fosse parte de uma ampla estratégia de integração da perspectiva de gênero (gender mainstreaming) do planejamento urbano da cidade. O processo todo começou uns vinte anos atrás quando um grupo de urbanistas mulheres da prefeitura organizaram uma grande exposição sobre mulheres na cidade. O foco foi a vida cotidiana de mulheres de diferentes idades, classes, raças e contextos familiares para ilustrar a diversidade de necessidades e perspectivas no uso da cidade que nunca foram levados em consideração no planejamento urbano.



O primeiro grande desafio para integrar a perspectiva de gênero no desenvolvimento urbano é identificar o tema como uma prioridade para criar cidades sustentáveis e inclusivas. Porque no nosso sistema não são somente as decisões de planejamento urbano e a prestação de serviços urbanos que são orientados à experiência de homens brancos, heterossexuais de classe média ou alta, mas também as definições de problemas, a agenda política e a decisão do que é uma pauta importante para o planejamento urbano. 

O que percebemos como uma problemática e como definimos uma prioridade é vinculado a nossa experiência do dia a dia. Mas muitas vidas cotidianas e os seus problemas, não só de mulheres, mas também de outras minorias sociais e grupos discriminados ficam na invisibilidade.

Quando entendemos as diferentes realidades e necessidades, o próximo passo é integrar isso na forma como planejamos, como tomamos decisões, como coletamos e analisamos dados e como alocamos orçamento. A cidade de Viena segue princípios da integração da perspectiva de gênero para a que toda a prefeitura incluia a linguagem não-sexista e inclusiva, gestão de dados, processos de participação e representação e liderança. Na área de planejamento e desenvolvimento urbano a prefeitura foi mais a fundo e publicou uma estratégia da integração da perspectiva do gênero com quatro áreas: (1) o processo de planos diretores, concepções e visões para desenho urbano, (2) planejamento urbano e territorial, (3) espaços públicos, (4) habitação e prédios públicos. 

Um dos primeiros exemplos práticos foi o redesenho e reforma de parques públicos com critérios de gênero. A análise sócio-espacial com dados diferenciados por gênero, idade e outros critérios sociais mostrou que o uso de parques públicos de meninas caía significativamente a partir da adolescência por questões de segurança pública, oferta de equipamentos e a falta de banheiros públicos limpos e bem cuidados. A prefeitura implementou projetos pilotos e introduziu diretrizes para o desenho de parques públicos para todos os novos projetos.

Mesmo que também no desenvolvimento urbano o diabo esteja nos detalhes, é preciso considerar o cenário maior. O que o fato que só 12% dos prefeitos e prefeitas no Brasil são mulheres diz sobre a nossa sociedade? Alemanha e a Áustria passam ainda mais vergonha nesse aspecto com um número de 9%. Temos certeza de que queremos que a nossa visão de liderança seja masculina (e branca)? Obviamente o estilo de liderança de uma pessoa não só depende do seu gênero biológico. Mas ao longo da minha carreira em diferentes posições de liderança aprendi que o meu gênero não pode ser desvinculado da minha liderança. E não deveria ser.

Finalmente a integração da perspectiva de gênero no desenvolvimento urbano é só um primeiro passo para criar um sistema que leva a sério a nossa diversidade e a desigualdade que muitas vezes é um resultado dessa pluralidade.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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