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OS IMPACTOS DO CONFINAMENTO SEGUNDO OS DADOS DE TELEFONIA MÓVEL

Luiz Eduardo Viotti
Luiz Eduardo Viotti
Sócio e Managing Director no Brasil da Kido Dynamics, investidor anjo em diversas startups, sócio e membro do comitê de investimentos da GR8 Ventures e da You Mind, plataforma de negócios e inovação. Também atuou como sócio das consultorias PwC e KPMG, onde liderou as práticas de Telecomunicações, Midia e Tecnologia, e foi CEO da EAQ, entidade aferidora da qualidade da Banda Larga no Brasil.

Estudo desenvolvido a partir de dados de movimentação da população espanhola traz as diferenças de deslocamento entre grupos de maior e menor renda.

As medidas de confinamento durante a pandemia de COVID-19 trouxeram, como era de se esperar, impactos representativos nos padrões de mobilidade em todo o mundo. Em recente estudo realizado por meio de registros de telefonia móvel anônimos e agregados, analisamos o comportamento de mobilidade de mais de 12 milhões de cidadãos espanhóis. 

O comportamento de mobilidade em condições pré-pandemia indica um padrão bastante lógico e conhecido na Espanha: pessoas com maior poder aquisitivo tendem a se movimentar mais, uma vez que possuem mais razões de deslocamento, vivem fora dos grandes centros e usufruem mais de viagens a lazer ou em busca de consumo de produtos e serviços em geral.



Sabemos que, com o advento da pandemia, a mobilidade foi alterada em praticamente todas as cidades do mundo, em maior ou menor proporção. Mas será que essa lógica de mobilidade por renda permanece válida após o início da pandemia? Nós podemos responder esta pergunta através da interpretação de dados de movimentos reais observados pela utilização das redes de telefonia móvel.

O gráfico abaixo representa a taxa de mobilidade por faixa de renda domiciliar desde julho de 2019 até julho de 2021, considerando que uma taxa igual a 100 representa o índice de mobilidade médio para o ano de 2019 (pré-pandemia). Por meio do gráfico abaixo podemos observar claramente que:

  1. De fato, em períodos pré-pandemia, a população de maior renda realizou mais deslocamentos que a população de menor poder aquisitivo.
  2. Com o confinamento esta lógica se inverte, já que a grande maioria das pessoas de renda mais alta puderam trabalhar remotamente, enquanto que as pessoas de menor renda foram, em muitos casos, obrigadas a se deslocar por motivos laborais.
  3. No período do verão europeu, a lógica se inverte novamente e retoma o comportamento observado antes da pandemia (ainda que em menor volume), no qual as pessoas com maior poder aquisitivo realizam mais deslocamentos a partir de seus domicílios. O motivo é bastante claro quando se analisa o período de veraneio e a demanda reprimida de viagens ao longo de vários meses de confinamento: por motivos de lazer, as classes sociais mais favorecidas viajaram mais.
  4. No segundo inverno europeu de pandemia, as pessoas com menor renda assumem, de novo, o protagonismo na geração de viagens, enquanto que as pessoas com maior renda seguem, em grande parte, trabalhando de forma remota.

No Brasil os indicadores de aumento da vacinação e redução do contágio já são uma realidade em outubro de 2021. Comportamentos sociais e formas de executar atividades relacionadas com o trabalho e com a educação foram, em muitos casos, radicalmente alteradas e adaptadas à nova realidade imposta pela pandemia, a partir de março de 2020.

Se essas mudanças temporárias irão de fato causar transformações sociais e comportamentais permanentes são questões ainda em aberto e que serão, em momento oportuno, avaliadas com base em análise de dados de deslocamento de grandes grupos populacionais. Essas análises, realizadas de forma contínua, poderão, de fato, gerar inteligência para tomada de decisão e planejamento de gestores públicos e agentes privados.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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