Estudo realizado pela EY e Abdib mostra que Covid-19 e baixa expectativa de crescimento do país reduzem expectativas de novos projetos
A resiliência da pandemia de Covid-19 e as baixas expectativas em relação ao crescimento econômico do país nos próximos meses reduziram o otimismo na área de infraestrutura no Brasil. Pesquisa realizada pela consultoria EY, em parceria com a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), mostra que empresários e líderes do setor estão céticos no curto e médio prazos, mas mantêm a expectativa de novos investimentos nos próximos anos, principalmente nas áreas de saneamento básico, gás natural, energia elétrica, rodovias e ferrovias.
Os dados constam do Barômetro da Infraestrutura Brasileira, estudo realizado a cada semestre pela EY e Abdib. Em sua quinta edição, lançada em maio deste ano, foram ouvidos 175 líderes da área (empresários, executivos e especialistas) sobre temas como desenvolvimento econômico, atuação do governo federal em diversas áreas, cenários para investimentos e segurança jurídica para projetos em infraestrutura, entre outros temas.
De acordo com a sondagem, quase metade dos entrevistados – 43% – está pessimista em relação ao crescimento do país como um todo nos próximos seis meses. Outros 38,3% acreditam que o cenário econômico nacional ficará estável neste período e apenas 17,7% estão otimistas com o crescimento. “É um setor muito dinâmico, que muda mês a mês e a questão da pandemia ainda influencia muito nas opiniões sobre o cenário”, explica o diretor-executivo para Setor Público e Infraestrutura da EY, Gustavo Gusmão.
Quando perguntados sobre a sua área de atuação, 36,6% dos entrevistados consideram o cenário favorável para promoção de investimentos em infraestrutura nos próximos seis meses. Na pesquisa anterior, realizada no segundo semestre do ano passado, 52,1% dos entrevistados confiavam em um cenário positivo nos seis meses seguintes. Na época, havia expectativa de um cenário melhor pela possível vacinação em massa da população e consequente controle da Covid-19, o que acabou não acontecendo. Para 37,7% dos entrevistados, é muito difícil prever novos investimentos sem controle da pandemia.
“Houve uma certa euforia, no segundo semestre do ano passado, de que o pior da pandemia já tinha passado, o que acabou não acontecendo”, diz Gusmão. Ele lembra, porém, que a sondagem mais recente foi feita antes de o governo federal leiloar um pacote de concessões, como aeroportos, em abril. “As informações para o barômetro foram coletadas antes da ‘Infra Week’, o que pode ter melhorado a percepção dos investidores”, ressalta Gusmão.
No longo prazo, porém, o cenário econômico tende a ser mais favorável, na opinião dos empresários. De acordo com a pesquisa EY/Abdib, 34,9% dos entrevistados estão otimistas quanto ao crescimento econômico do país para 2022, após o fim do atual mandato presidencial, e 22,3% estão pessimistas. “O otimismo continua em relação a investimentos futuros em saneamento básico, reflexo da aprovação do novo marco regulatório do setor e da possibilidade de expansão do capital privado”, diz um trecho do relatório da EY.
Os entrevistados destacam o interesse de participação do setor privado em projetos e programas de infraestrutura por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPPs). A participação, porém, depende das regras contratuais, dos riscos e das obrigações de todas as partes envolvidas (públicas e privadas). Essas regras devem ser estabelecidas de acordo com as necessidades da população, características do setor e aos interesses da iniciativa privada.
A percepção sobre a segurança jurídica nos contratos, por exemplo, piorou significativamente: 35,4% das pessoas ouvidas pela EY consideram esse grau de segurança ruim ou péssimo. A soma de ruim e péssimo é muito superior à soma registrada no primeiro e segundo semestres de 2020 (24,5% e 20,4%, respectivamente).
Entre os fatores que podem ter influenciado a percepção negativa dos agentes de infraestrutura foram notícias como a encampação da Linha Amarela, no Rio de Janeiro, em 2020. “Esse tipo de intervenção, mesmo localizada, é percebida lá fora e contamina o mercado como um todo”, explica Gusmão.
O diretor-executivo da EY ressalta que, mesmo com investimentos privados, o poder público, em todas as esferas, deve continuar a cumprir sua parte em investimentos em infraestrutura, principalmente em projetos e obras que não despertam interesse da iniciativa privada, mas que são necessários para a população. “O governo precisa continuar a ser o principal indutor de infraestrutura, executando bons projetos. Isso é investimento público na veia”, conclui Gusmão.