A Covid-19 trouxe a necessidade das cidades agirem de forma tempestiva e eficiente para preservarem e restaurarem suas estruturas básicas e suas funções essenciais, contudo, tais ações que são consideradas de resiliência sempre estiveram contempladas no conceito das cidades sustentáveis
Muitas vezes se alega que as cidades devem ser sustentáveis, humanas e resilientes. No entanto, é importante esclarecer que a questão da sustentabilidade já contempla os aspectos humanos e de resiliência para as cidades sustentáveis.
Quando a Conferência das Nações Unidas em 1972 incluiu no conceito de sustentabilidade um olhar para os efeitos da urbanização e das desigualdades socioeconômicas, ultrapassando as fronteiras das questões ambientais, já havia intrínseco que as cidades deveriam ser sustentáveis. Porém, parece que este conceito de cidade sustentável somente teve maior propagação na última década, com a adição de diversos termos que resultaram em pequenos pleonasmos conceituais.
Note que as cidades sustentáveis podem ser definidas como aquelas que promovem um crescimento econômico baseado em políticas públicas e ações que impactam positivamente a sustentabilidade (resiliência), com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população, o que torna a cidade mais humana.
Lógico que a qualidade de vida do cidadão está relacionada com ações que buscam melhorar a mobilidade urbana, a segurança pública, o saneamento básico (incluindo a questão de resíduos sólidos), os serviços de saúde pública e todos os demais serviços públicos.
O interessante é que muitas vezes há uma dúvida sobre os conceitos de cidade sustentável e cidade inteligente. Toda cidade inteligente deve ser sustentável, uma vez que a sustentabilidade é um dos três pilares de sustentação do conceito. E toda cidade sustentável terá alguma forma de inteligência porque se utilizará de tecnologia para o desenvolvimento de ações que promovam o desenvolvimento econômico sustentável.
A Covid-19 trouxe a necessidade das cidades agirem de forma tempestiva e eficiente para preservarem e restaurarem suas estruturas básicas e suas funções essenciais, contudo, tais ações que são consideradas de resiliência sempre estiveram contempladas no conceito das cidades sustentáveis, uma vez que epidemias e outras ameaças ambientais são fatores de preocupação para o desenvolvimento econômico adequado das cidades.
Inúmeras iniciativas globais têm sido implementadas ao longo das últimas décadas. Dentre elas, existe a Agenda 2030 que foi lançada em 2015 pelas Nações Unidas, na qual foram estabelecidos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), composto por 169 metas, cujo objetivo é combater combate de questões socioambientais, mas também os gestores públicos no desenho de ações efetivas para a construção de cidades sustentáveis. Outro exemplo foi o Índice de Progresso Social que também ajuda a monitorar e avaliar os indicadores socioambientais, possibilitando que gestores públicos tenham uma visão adequada e efetiva das ações que foram implementadas e, dessa forma, fazer ajustes no percurso dos projetos.
Outras questões também reforçam a preocupação com a temática da cidade sustentável. O surgimento de edificações sustentáveis nas cidades, seja por certificação nacional ou internacional, não apenas traz a preocupação com a redução dos danos ambientais, mas a disseminação do conceito de urbanismo sustentável, que tem base nos princípios do crescimento urbano inteligente. Todavia, o conceito de urbanismo sustentável também abarca um sistema de transporte público que permite a possibilidade de deslocamento a pé integrado com edificações e infraestruturas de alto desempenho (segundo Douglas Farr, 2013). Logo, também estamos falando de qualidade de vida do cidadão.
Portanto, toda cidade sustentável é humana e resiliente.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Sócio da Deloitte no Brasil, onde atua na área de Infraestrutura & Projetos de Capital e líder da área de Governo e Serviços Públicos. Advogado com mestrado em Políticas Públicas (FGV-EAESP) e certificado profissional de PPP (CP3P). Atualmente, é doutorando em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie, com a tese sobre cidades inteligentes e resilientes. O executivo é membro do Advisory Board do GRI Club de Infraestrutura no Brasil, além de professor convidado de cidades inteligentes, no MBA Internet das Coisas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e monitor convidado da Singularity University.