A importância do Turismo na economia global e a necessidade urgente de retomada do setor tem motivado economistas e governantes a buscarem novas fontes de dados para “medir” o turismo
Em 2019, o setor de Viagens e Turismo representou 10,4% do PIB global (US$ 9,2 trilhões) e 10,6% de todos os empregos (334 milhões) no mundo. A pandemia de COVID-19 e as restrições de mobilidade causaram perdas de quase US$ 4,5 trilhões neste setor, diminuindo a sua contribuição global para o PIB em cerca de 50%, enquanto o PIB global apresentou um declínio de 3,7%. Estes números, publicados pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), apenas traduzem a realidade já percebida do impacto da pandemia no setor de Turismo.
A importância do Turismo na economia global e a necessidade urgente de retomada do setor tem motivado economistas e governantes a buscarem novas fontes de dados para “medir” o turismo. Esta necessidade se materializa a nível nacional, internacional, e regional, um tipo de turismo também impactado pela pandemia mas com maior velocidade de recuperação uma vez que as viagens de longa distância seguem bastante limitadas até o momento. Nesse contexto, a identificação do volume e do comportamento espacial dos turistas é crucial para uma melhor gestão e planejamento dos destinos turísticos, que precisam munir-se de informação para enfrentar a crise e retomar os patamares econômicos observados antes do surgimento da pandemia.
As fontes tradicionais de dados turísticos
As fontes de dados tradicionais, como as estatísticas de acomodação, as entrevistas com visitantes e os dados das agências de viagens são limitados no que tange ao fornecimento de detalhes sobre a movimentação espacial dos turistas, além de não abrangerem todas as formas de turismo existentes. As estatísticas de acomodação, por exemplo, não incluem dados dos visitantes que não pernoitam no local, ou que se hospedam em casas de família (por exemplo, “Airbnb”), ou das pessoas que ficam em casas de amigos e familiares. As entrevistas com visitantes, por sua vez, são bastante custosas, podem carregar vieses de resposta e capturar com isto apenas um número reduzido de pessoas em ambientes específicos, tornando inconsistente a expansão desta amostra para o total da população. É fundamental, portanto, buscar novas alternativas de informação que possam abranger todos os tipos de turismo e que forneçam mais detalhes sobre os fluxos turísticos em tempo e espaço.
A utilização dos dados de telefonia como fonte de estatísticas para o Turismo
Uma fonte de dados que permite a geração de informação sobre Turismo em grandes escalas espaciais e também temporais são os dados oriundos do uso de telefonia móvel, visto que um número cada vez maior de pessoas carrega consigo um celular em todas situações ao longo do dia. O CDR (Call Detail Record), coletado pelas operadoras de telefonia para fins de cobrança, representa o registro de dados originados em eventos de utilização da rede móvel, como chamadas, mensagens de texto e tráfego de dados. A precisão espacial dos dados depende da distribuição das antenas da rede móvel, que por sua vez é determinada pelo padrão e densidade populacional, sendo, portanto, mais precisa em áreas urbanas e menos precisa em ambientes rurais.
Estes dados primários, quando processados utilizando-se técnicas de Big Data associadas a algoritmos criados para gerar inteligência de máquina (“machine learning”) de forma anonimizada, são a fonte mais confiável para medir o volume de chegadas e partidas de turistas e ainda para analisar características importantes, tais como a região ou o país de origem do visitante, os horários de chegada e partida, a duração da estadia e ainda os locais visitados.
No Brasil já se observa uma demanda crescente de utilização desta tecnologia principalmente por parte de entidades públicas e empresas que desejam lançar mão deste tipo de informação para suportar o seu processo de planejamento e tomada de decisão de forma mais precisa, rápida e eficiente.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Sócio e Managing Director no Brasil da Kido Dynamics, investidor anjo em diversas startups, sócio e membro do comitê de investimentos da GR8 Ventures e da You Mind, plataforma de negócios e inovação. Também atuou como sócio das consultorias PwC e KPMG, onde liderou as práticas de Telecomunicações, Midia e Tecnologia, e foi CEO da EAQ, entidade aferidora da qualidade da Banda Larga no Brasil.