Em paralelo à crise financeira provocada pelo coronavírus, cresce a preocupação com a segurança alimentar e nutricional de alunos. A tecnologia de ensino à distância não conseguirá, sozinha, promover o desenvolvimento escolar de uma criança com fome
Segundo o último balanço do PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, entre janeiro e abril deste ano, foram oferecidas mais de 50 milhões de refeições diárias em 150 mil escolas da rede pública, compondo um investimento de R$ 1,5 bilhão somente no primeiro quadrimestre.
Os recursos necessários ao PNAE deverão aumentar. Com o orçamento de muitas famílias afetado pela pandemia, cresce a quantidade de transferências de alunos de escolas privadas para públicas. Para se ter uma ideia, somente no estado de São Paulo, o número de alunos transferidos para a rede pública cresceu 44,4% .
Em paralelo à crise financeira provocada pelo coronavírus, cresce a preocupação com a segurança alimentar e nutricional destes alunos. A tecnologia de ensino à distância não conseguirá, sozinha, promover o desenvolvimento escolar de uma criança com fome. Mesmo em um sistema híbrido, há necessidade de análises de dados e otimização logística para fazer chegar aos estudantes, em especial às crianças, alimentos de qualidade que potencializam o desenvolvimento educacional, físico e mental.
Nutrição, primeira infância e desempenho escolar
Segurança alimentar é um dos principais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável – visa acabar com todas as formas de fome e má-nutrição até 2030, de modo a garantir que todas as pessoas, principalmente as crianças, tenham acesso suficiente a alimentos nutritivos durante todos os anos.
E a preocupação com a qualidade nutricional deve começar já na primeira infância. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma nutrição adequada nesta fase afeta positivamente todo desempenho escolar e consequentemente o futuro profissional, o que impacta o PIB de um país. A consequência impressiona – a cada US$ 1 investido na primeira infância, obtém-se US$ 7 de retorno na fase adulta – é o que afirma o Nobel em economia James Heckman.
Exemplo de tecnologia em favor da alimentação escolar
Para colocar os direitos nutricionais das crianças em primeiro lugar, a UNICEF orienta coletar, analisar e usar dados e evidências de boa qualidade regularmente para orientar as ações e acompanhar o progresso. A tecnologia pode ser uma grande aliada e já há casos práticos em cidades brasileiras.
O município de Maricá/RJ, por exemplo, utiliza uma ferramenta nutricional para adequar merenda dos alunos. O sistema, instalado em tablets e disponível a todas as escolas do munícipio, permite a criação de cardápios a partir do per capita nutricional dos alunos, identifica crianças com sobrepeso, desnutrição e intolerâncias, propiciando o acompanhamento pelos pais e equipe de nutrição, além de automatizar o processo de solicitação de pedidos a agricultura familiar.
Os resultados do uso da tecnologia apareceram rapidamente, com destaque a melhora da qualidade nutricional, aumento da oferta de orgânicos e redução de desperdícios através do planejamento autonômico do consumo da merenda e do acompanhamento online da aceitação dos alunos a cada tipo de alimento.
Iniciativas como esta mostram que, apesar dos desafios, inovações podem alavancar o encontro da fome com a vontade de pôr comida de qualidade no prato.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
CEO da Lemobs, GovTech focada no processo de transformação digital das cidades brasileiras, e sócio-fundador da HealthTech ProntLife. Doutor pela COPPE/UFRJ, com mais de 20 anos de experiência em projetos de inovação envolvendo softwares e aplicativos.