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A HORA É AGORA

Marcus Regis
Marcus Regis
Coordenador do Projeto PROMOB-e e da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME) pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, que conta com coordenação do Ministério Alemão de Cooperação Econômica e para Desenvolvimento. O executivo é especialista em gestão de projetos de cooperação internacional e economia do desenvolvimento.

A mudança climática é um problema do aqui-e-agora. Quem tem olhos e dois dedinhos de bom-senso pode ver

A conta de luz está mais cara. O jornal trazia ontem mesmo a notícia de que a energia elétrica foi o item de maior peso na última divulgação da inflação oficial do país. Para os que gostam de números: apenas no mês passado, a alta foi de 5,37%, o que correspondeu a 0,23 ponto percentual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio. Em 12 meses, o acumulado está em 8,06%.

No distante ano passado, teve também aquela dos milhões de gafanhotos que invadiram cidades e fazendas de parte da Argentina. A nuvem de insetos se aproximava do Brasil e tirava o sono de agricultores, grandes e pequenos.



Para engrossar a lista: ondas de calor atrapalham o sono e o trabalho; enchentes desalojam e pioram (mais) o trânsito nas Marginais; o preço do tomate está nas alturas.

Meus caros, a mudança climática é um problema do aqui-e-agora. Quem tem olhos e dois dedinhos de bom-senso pode ver e, sinceramente, é difícil entender por que ainda se gasta tanto tempo, dinheiro e (recurso mais caro de todos) neurônios discutindo se ela está aí ou não.

Portanto, passemos ao que, aqui, nos interessa: o que a mobilidade elétrica tem a ver com isso?

Mobilidade elétrica e mudança climática

Bem, podemos passear rapidamente pelo que é, pelo menos para nós aqui, óbvio. O setor de transportes é responsável por cerca de um quarto das emissões diretas de dióxido de carbono provenientes da queima de combustível. Desta fatia, quase três quartos vêm dos escapamentos de carros, caminhões e ônibus. É o que diz a 00(IEA). Embora tenha mais gente, e muito séria, fazendo medições mais ou menos parecidas, as conclusões apontam para o mesmo rumo: estes canos de escapamento precisam parar agora. Isso posto, eletrificar os transportes é não só uma ótima solução, mas também uma que temos à mão de forma mais ou menos imediata.

Então pronto, resolvido? Bem… não.

Eletrificar os transportes é, sim, parte importantíssima da solução para o problema em que nos metemos, mas não funciona sozinha. A mudança climática não foi parida apenas por escapamentos e chaminés, mas por um modelo de desenvolvimento não apenas míope, mas que se tornou sua própria justificativa. É aí que está o problema.

A mobilidade elétrica nos dá uma oportunidade enorme para repensar nossas cidades e colocar as pessoas novamente no centro de suas prioridades. Só para ilustrar, a eletrificação das frotas de ônibus urbanos no Brasil terá que passar, necessariamente, por uma revisão de um modelo de negócios em que a conta, atualmente, não fecha para o operador, para o poder público e– principalmente – para o usuário. Lembra dos “não são os 20 centavos”? Pois é.

Desafios tecnológicos

Há também vários desafios tecnológicos ainda por resolver. Se hoje já se sabe, vamos lá, que ao longo do tempo a utilização de um veículo elétrico é não só mais econômica, mas também mais amigável ao clima, é igualmente claro que sua produção pode ser bem mais limpa. Isso é particularmente verdade quando falamos do coração destes veículos: as baterias. O assunto é quentíssimo ao se falar de seu reaproveitamento e descarte quando já não puderem nos levar pra lá e pra cá; e a mineração das matérias-primas necessárias para sua produção tem atraído muita atenção – nem sempre de maneira positiva.

E tem mais: indústria, governo, academia e a sociedade também vão precisar discutir a relação se não quiserem perder o bonde da eletrificação (ou qualquer outro, para ser honesto). Para que nos mantenhamos vivos – digo, competitivos – em um mundo em que a tecnologia é o verdadeiro agregador de valor e – por que não? – gerador de empregos e qualidade de vida, velhas desconfianças precisarão ser postas em segundo plano, e uma ação coordenada deverá ser colocada em prática para valer.

Vejam bem, eu não quero estragar o dia de ninguém com toda essa conversa de conta de luz, gafanhotos e discutir relação. Também não quero chegar aqui para espinafrar a mobilidade elétrica – muito pelo contrário. O que quero dizer é que o problema não só é sério, mas também complexo. E, ao contrário do que anda à boca pequena por aí, não há solução fácil para problemas complexos.

Mas há, sim, solução. Temos, no fim das contas, muito mais afinidades que desavenças. E o mais importante: temos um problema que é de todos e está bem na frente de nossos olhos, nu e cru. Precisamos ir ao que interessa, e precisamos fazer isso juntos.

É isso. Vamos em frente.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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