Uma cidade inteligente também pode receber este título quando é pensada para oferecer aos cidadãos, um recurso impagável, muito conhecido por quem mora no campo, a proximidade com a natureza
Quando falamos de cidades inteligentes, pensamos em um conceito baseado em tecnologia. Como exemplos temos o uso de câmeras que monitoram e garantem a segurança, implementação de sensores que otimizem recursos elétricos e geram dados que ajudam a gestão das cidades a medir, planejar e antecipar incidentes, crises ou até grandes eventos climáticos. Mas, este conceito está além desta percepção. Uma cidade inteligente também pode receber este título quando é pensada para oferecer aos cidadãos, um recurso impagável, muito conhecido por quem mora no campo, a proximidade com a natureza.
Percepção que foi aumentada quando, em 2020, a Global Footprint Network (GFN), responsável pelas medições de CO2 no mundo percebeu que houve uma redução de 15% dos gases nocivos à saúde humana. Isso, em função do isolamento social imposto pela pandemia. Um sinal de que a mudança é possível e que, para que isso aconteça, é necessário que cada um faça sua parte.
Novas ideias e soluções tecnológicas
Sendo assim, engenheiros e arquitetos do mundo têm repensado neste conceito e incessantemente atribuído novas ideias e soluções para transformar ou introduzir, a natureza e biodiversidade nos centros urbanos, a fim de melhorar de maneira geral, todo seu desenvolvimento, seja social ou econômico.
Ao redor do mundo, novas soluções tecnológicas possibilitam o desenvolvimento e a manutenção de espaços verdes em grandes centros urbanos, principalmente via sensores localizados no solo desses espaços, conectados diretamente à central de manutenção, que passam a ser ferramentas importantes na gestão municipal: com a mesma quantidade de colaboradores, podem ser monitorados mais ou maiores espaços de natureza. Já usado no campo, a tecnologia como “Vegetal Monitoring”, permite controlar melhor a necessidade de regar os solos e fazer o censo das vegetações/plantas/árvores presentes no ambiente urbano, usando apenas o necessário de água para cada tipo de planta. Outro exemplo que já podemos ver na mudança de comportamento é o setor imobiliário, um dos que mais degradavam regiões arborizadas para gerar suas construções. Estima-se que o setor seja responsável por mais de 20% das emissões de gases do efeito estufa no mundo.
Outro conceito, conhecido como green building, tem tomado conta do setor que privilegia iluminação e ventilação naturais (assim, não é preciso ter ar-condicionado ou usar energia elétrica o tempo todo), por opções de decoração sustentável, edifícios que prezam pela economia de recursos, condomínios com coleta seletiva e até mesmo projetos da comunidade de moradores, como hortas comunitárias e composteiras nas áreas comuns e compartilhamento de carros, bicicletas e até apartamentos. De acordo com dados do GBC Brasil – Green Building Council Brasil, tais construções sustentáveis consomem 30% menos energia e emitem 35% menos gases de efeito estufa.
Consciência verde
É o caminho. Conforme o mundo aquece, os prédios no Brasil vão se esverdear, o exemplo mais recente que podemos usar é da Prefeitura de São Paulo que planeja implantar jardins verticais nos prédios construídos no entorno do Minhocão. Inicialmente, o planejamento mostra que cerca de 20 edifícios da região ganhem paredes verdes em suas empenas cegas – nome dado àqueles paredões dos prédios que não possuem janelas, onde eram colocados anúncios publicitários, antes da Lei Cidade Limpa ser aprovada na cidade de São Paulo, em 2007. O projeto estabelece que empresas que atuam em São Paulo impactando o meio ambiente podem fazer compensação ambiental de suas ações por meio da implementação de jardins verticais na cidade.
Em fevereiro de 2020, o Decreto n° 10.388 regulamentou o sistema de logística reversa de produtos eletroeletrônicos e seus componentes de uso doméstico. Um dos objetivos é a ampliação da quantidade de postos de coleta para os eletroeletrônicos, que devem passar de 173 para 5 mil em todo o país, até 2025, atendendo aos 400 maiores municípios brasileiros. Além do benefício para a população em termos de saúde e qualidade de vida, as Cidades Inteligentes com selo “Verde”, trazem também vantagens econômicas. Dado o exemplo de Curitiba que pelos investimentos em infraestrutura verde se tornou um dos melhores locais para se investir, de toda a América Latina.
Embora pareça para muitos um mundo um pouco distante da nossa realidade, sabemos que independente de recursos o planejamento e linha de adoção de melhorias vão além dos desafios financeiros do país. Trata-se de um conceito muito além da Cidade Inteligente, a chamada “Consciência Verde”. Caminhamos todos para esse processo, sempre que o bom uso de soluções, serviços, tecnologia e inovação que possibilitem a tão sonhada melhoria urbana.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Gerente de Smart Cities na green4T. Graduada em estratégias territoriais e urbanas pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, a executiva possui experiência organizacional na gestão de projetos de mobilidade adquirida no Brasil, França, Argentina e México. Atuou na implantação de 24 sistemas de bicicletas públicas e carros elétricos compartilhados e publicou o “Projetar e Construir Bairros Sustentáveis”, estudo comparativo sobre operações urbanas consorciadas, em São Paulo e Paris.