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COMO OS DADOS DE TELEFONIA MÓVEL PODEM NOS AJUDAR A COMPREENDER E MELHORAR A MOBILIDADE URBANA?

Luiz Eduardo Viotti
Luiz Eduardo Viotti
Sócio e Managing Director no Brasil da Kido Dynamics, investidor anjo em diversas startups, sócio e membro do comitê de investimentos da GR8 Ventures e da You Mind, plataforma de negócios e inovação. Também atuou como sócio das consultorias PwC e KPMG, onde liderou as práticas de Telecomunicações, Midia e Tecnologia, e foi CEO da EAQ, entidade aferidora da qualidade da Banda Larga no Brasil.

Dados de telefonia móvel gerados passivamente estão emergindo, nos últimos anos, como uma fonte adicional de dados para geração de pesquisas de origem e destino e outras aplicações de mobilidade. Para compreender e planejar a mobilidade urbana e rodoviária, é fundamental entender como os indivíduos viajam e conduzem as suas atividades diárias. Nesse contexto, apresento-lhes uma visão prática sobre a utilização dos dados de telefonia móvel no campo de estudo da mobilidade

Atualmente o levantamento de informações sobre mobilidade baseia-se sobretudo na coleta presencial de dados em pequenas amostras e baixas frequências. Diversas cidades brasileiras conduzem pesquisas domiciliares com amostras de 1% ou menos da população, realizadas a cada dez anos com o objetivo de compreender os deslocamentos da população. Com a evolução da sociedade e novas tecnologias, as cidades se tornaram mais complexas e, portanto, é fundamental que os planejadores busquem novas abordagens para ampliar a capacidade de enfrentamento de desafios como o congestionamento do tráfego e a poluição.

A conectividade móvel mudou a maneira como as pessoas trabalham e se comunicam. Com a universalização desta tecnologia em países como o Brasil, associado à evolução de técnicas estatísticas potencializadas pelo uso de big data e computação em nuvem, dados originados nas redes de telefonia móvel passaram a ser cada vez mais utilizados para produzir informações espaço-temporais em todo o mundo. O grande volume e representatividade da amostra bem como o longo período de observação destes dados permitem inferir “pegadas” humanas em escala sem precedentes.



O processamento dos CDRs

Como primeiro passo, é realizada uma análise preliminar para assegurar a coerência, a qualidade e a completa anonimização dos registros gerados pela operadora móvel. Nesta etapa os dados são filtrados a fim de que se mantenham apenas aquelas informações relevantes para a caracterização da mobilidade. Os dados são então transformados em séries temporais de eventos por dispositivo, apresentando os saltos entre as antenas da rede móvel, sempre com um horário atribuído. Projeções destes movimentos na infraestrutura viária permitem a reconstrução dos trajetos que melhor representam a compatibilidade cinemática com os registros de telefonia, considerando as rotas possíveis dentro de uma região. O produto mais direto do processamento dos CDRs são as matrizes de origem-destino.

As matrizes de origem-destino

A matriz de origem-destino representa o insumo principal para o levantamento da demanda de viagens em uma determinada área, seja ela um bairro ou um país inteiro. A matriz OD gerada a partir dos dados de telefonia apresenta granularidade suficiente para as análises de mobilidade, além de um altíssimo índice de preenchimento de pares OD possíveis, já que se trata de uma amostra bastante representativa do total de deslocamentos de uma região. As matrizes OD obtidas por dados de telefonia móvel podem ser geradas de forma praticamente instantânea e atualizadas com frequência diária, além de permitirem a análise de períodos retroativos.

Aplicações Práticas

Através das matrizes OD, os planejadores são capazes de conhecer os padrões e quantificar as viagens que ocorrem em uma determinada região, podendo projetar e otimizar sistemas de transporte e também a infraestrutura viária existente, além de obter informações cruciais para o desenvolvimento de planos de mobilidade e planejamento de investimentos futuros. Aplicações práticas desta tecnologia em outras áreas do conhecimento como Turismo, Marketing Out-of-Home e Varejo já são uma realidade em diversos países do mundo, inclusive no Brasil.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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