spot_img
HomeCONTEÚDOSCidadesA NARRATIVA SINGULAR DE UMA CIDADE INTELIGENTE

A NARRATIVA SINGULAR DE UMA CIDADE INTELIGENTE

Tatiana Tucunduva P. Cortese
Tatiana Tucunduva P. Cortese
Pesquisadora do USP Cidades Globais – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, docente do Programa de Pós-graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis – PPGCIS da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e Autora dos livros “Cidades Inteligentes e Sustentáveis” e “Mudanças Climáticas: do global ao local.

Cidades são feitas para pessoas, por pessoas, com a busca por um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a responsabilidade ambiental e a justiça social. Uma cidade inteligente deve ser sustentável, humana, inclusiva, resiliente

Toda vez que leio notícias sobre Cidades Inteligentes ou Smart Cities ou quando alunos me pedem para discorrer sobre o assunto, a primeira reação é explicar que a tecnologia é somente uma parte dessa cidade inteligente, a reação imediata é de desapontamento. É neste instante que lembro de um ensinamento relevante que aprendi com Chimamanda Ngozi Adichie sobre narrativas singulares.

Como se cria uma narrativa singular? Repetindo-a tantas vezes que ela se torna fato e não questionamos mais sobre se aquilo é completo ou não. E essa narrativa envolve o poder de contar uma história sobre determinado conceito como sendo definitivo. O poeta palestino Mourid Barghouti diz que a melhor forma de despojar um povo, é contar a história dele começando sempre pelo “em segundo lugar”. Isso quer dizer que começaríamos, por exemplo, criticando o fato de que nossos representantes eleitos exercem o poder em benefício próprio e são corruptos, em vez de refletirmos o quanto os políticos são “espelho” dos eleitores, indivíduos que sempre querem levar vantagem, o famoso “jeitinho brasileiro”.



O que são Cidades Inteligentes?

Isso me faz pensar no conceito de Cidades Inteligentes. Os conceitos e definições sempre começam trazendo que “uma cidade inteligente é uma área urbana que usa diferentes tipos de tecnologias da informação e comunicação para coletar dados”, como se o foco fosse o “inteligente”. Cidades que utilizam sensores de reconhecimento facial, Internet das Coisas conectando serviços, postes inteligentes, modelos de negócios que mantém as pessoas conectadas o maior tempo possível.

Porém, precisamos levar em consideração que antes de se pensar em inteligência, deve-se levar em conta que é uma cidade. E cidades são feitas para pessoas, por pessoas, com a busca por um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a responsabilidade ambiental e a justiça social. Uma cidade inteligente deve ser sustentável, humana, inclusiva, resiliente.

O planejamento urbano das cidades se torna indispensável, identificando condições de adensamento populacional e demanda por habitação, infraestrutura, energia e mobilidade. E, com o crescimento contínuo da população urbana no planeta, as cidades precisam desenvolver soluções para entrega dos serviços públicos, para a conquista de justiça social, para melhoria da qualidade de vida. Exatamente nesse ponto que a tecnologia é utilizada para aumentar eficiência e otimizar as soluções propostas.

 Narrativas múltiplas

Cidades inteligentes respondem aos desafios das mudanças climáticas, ao rápido e constante crescimento populacional e instabilidade econômica e política, melhorando a forma de engajamento da sociedade, aplicando métodos colaborativos de liderança, integrando sistemas municipais, utilizando big data e tecnologias inovadoras para oferecer melhores serviços e qualidade de vida para residentes, trabalhadores e visitantes, agora e no futuro (Norma ISO ABNT 37122).

O problema de uma narrativa singular é que cria estereótipos. E o estereótipo é uma ideia preconcebida, que torna essa narrativa a única existente. Portanto, minha provocação aqui é para que olhemos para esse conceito de Cidades Inteligentes e o que ele nos invoca, tendo sempre um olhar diverso a partir de narrativas múltiplas, com a interdisciplinaridade que o conceito exige.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

Artigos relacionados
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img

Mais vistos