Antes da discussão do problema da urbanização e da concepção de cidades inteligentes, a preocupação global já se voltava para a questão da sustentabilidade, uma vez que ela nos permite um futuro para as próximas gerações em nossas cidades
O processo de urbanização que vivemos nas últimas décadas trouxe um papel de protagonismo econômico para as cidades, porém, surgiram diversos desafios, tais como, as ameaças ambientais (poluição, enchentes, ondas de calor, epidemias, etc), a escassez de recursos (água, energia, minerais, etc) e as desigualdades socioeconômicas.
Dentre os diversos conceitos que existem de cidades inteligentes, podemos citar aquele preconizado recentemente pela Carta Brasileira de Cidades Inteligentes, o qual define como “cidades comprometidas com o desenvolvimento urbano e a transformação digital sustentáveis, em seus aspectos econômico, ambiental e sociocultural, que atuam de forma planejada, inovadora, inclusiva e em rede, promovem o letramento digital, a governança e a gestão colaborativas e utilizam tecnologias para solucionar problemas concretos, criar oportunidades, oferecer serviços com eficiência, reduzir desigualdades, aumentar a resiliência e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas, garantindo o uso seguro e responsável de dados e das tecnologias da informação e comunicação.”
Pilares de Cidades Inteligentes
Diante do conceito acima e nos aprofundando um pouco mais na temática, não podemos esquecer os pilares que alicerçam o conceito de cidades inteligentes, os quais se baseiam a) no desenvolvimento econômico, o qual visa reter e atrair de empresas, gerando empregos; b) na qualidade de vida do cidadão, cujo objetivo envolve as questões de saúde, educação, mobilidade, dentre outras, que colocam o ser humano como ponto principal de desenvolvimento de estruturas e soluções, mas também proporcionando ações que reduzem as desigualdades; e c) na sustentabilidade, que objetiva recuperar ou manter os escassos recursos naturais, em conjunto com ações que irão permitir uma cidade resiliente e totalmente inclusiva.
Logo, chegamos a uma reflexão que foi feita em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas, na qual foi manifestado que: “chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais. Através da ignorância ou da indiferença podemos causar danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e bem-estar dependem. Por outro lado, através do maior conhecimento e de ações mais sábias, podemos conquistar uma vida melhor para nós e para a posteridade, com um meio ambiente em sintonia com as necessidades e esperanças humanas (…)” (tradução livre do parágrafo 6 extraído da Declaração da Conferência da ONU sobre o meio ambiente em Estocolmo, 1972).
Cidades Inteligentes e sustentabilidade
Antes da discussão do problema da urbanização e da concepção de cidades inteligentes, a preocupação global já se voltava para a questão da sustentabilidade, uma vez que ela nos possibilita dar um futuro para as próximas gerações em nossas cidades. A visão de sustentabilidade nos ajuda a buscar soluções inovadoras, por exemplo, para o volume excessivo de resíduos sólidos produzidos diariamente nas cidades e para combater a poluição produzida pelas indústrias e pelo volume de automóveis nas ruas, mas sem reduzir os níveis de empregabilidade.
Todavia, a própria Nações Unidas ampliou este conceito de sustentabilidade nos últimos anos, colocando a garantia de oportunidade para todos, ou seja, a inclusão social faz parte deste conceito mais atual, uma vez que a urbanização trouxe um mundo onde a pobreza e as desigualdades são endêmicas, o que resulta em maiores problemas ecológicos.
Portanto, a concepção de cidades inteligentes precisa abarcar ações de sustentabilidade que visem a recuperação e a manutenção dos nossos escassos recursos naturais, promovendo o uso de mecanismos de energia renovável, o tratamento e a limpeza de rios que abastecem as cidades, o tratamento do volume exponencial de resíduos sólidos, o uso de soluções inovadoras de construção, dentre outras. A inteligência da cidade estará na forma como o desenvolvimento sustentável se preocupa com as nações futuras e promovem uma resiliência, evitando a escassez dos recursos naturais, novas epidemias ou outros desastres proeminentes.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Sócio da Deloitte no Brasil, onde atua na área de Infraestrutura & Projetos de Capital e líder da área de Governo e Serviços Públicos. Advogado com mestrado em Políticas Públicas (FGV-EAESP) e certificado profissional de PPP (CP3P). Atualmente, é doutorando em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie, com a tese sobre cidades inteligentes e resilientes. O executivo é membro do Advisory Board do GRI Club de Infraestrutura no Brasil, além de professor convidado de cidades inteligentes, no MBA Internet das Coisas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e monitor convidado da Singularity University.