spot_img
HomeEIXOS TEMÁTICOSGovernançaO OBJETO PRINCIPAL DA POLÍTICA É CRIAR A AMIZADE ENTRE MEMBROS DA...

O OBJETO PRINCIPAL DA POLÍTICA É CRIAR A AMIZADE ENTRE MEMBROS DA CIDADE

Sergio Rodrigues
Sergio Rodrigues
CEO da Lemobs, GovTech focada no processo de transformação digital das cidades brasileiras, e sócio-fundador da HealthTech ProntLife. Doutor pela COPPE/UFRJ, com mais de 20 anos de experiência em projetos de inovação envolvendo softwares e aplicativos.

Uma boa amizade é estruturada pelo diálogo, onde a comunicação é uma via de mão dupla e tem como objeto principal gerar relacionamento

Aristóteles aborda a amizade como um dos pilares do pensamento ético e político. A vida em comunidade requer um olhar menos individualista, é preciso querer o bem e enxergar o outro para que haja harmonia, reciprocidade, felicidade e justiça.

No Brasil, a relação cidadão e gestor público está cada vez menos harmônica. Há injustiça quando um político eleito não cumpre suas promessas no tempo esperado. Por outro lado, é potencialmente injusto gerar expectativas de celeridade sem conhecer os trâmites inerentes a qualquer ação de governo.



A tecnologia pode melhorar ou piorar este cenário. O fenômeno das fake news em muito é justificado pela união de uma retórica persuasiva com a facilidade de compartilhamento. Falsas denúncias são um desserviço que gera gastos desnecessários, seja para fiscalizar um boneco na praia em tempos de pandemia, seja para mobilizar uma equipe a tapar um “buraco falso” que alguém denunciou num aplicativo.

Como podemos unir retórica aristotélica e tecnologia em favor do bem comum?

Ora, um dos caminhos é resgatar credibilidade nesta relação. Ao gestor, é preciso compreender a desconfiança da população e fomentar pontes de comunicação, onde a tecnologia é aliada, mas requer cuidados. Para lançar um serviço online à comunidade, é imprescindível estar preparado para, minimamente, dar resposta às solicitações. Uma boa amizade é estruturada pelo diálogo, onde a comunicação é uma via de mão dupla.

Atuo há mais de 20 anos com softwares e aplicativos para resolver problemas de cidadãos e gestores públicos. Tive a alegria de observar vários casos de sucesso, em sua maioria, devido ao compromisso das partes em preservar o diálogo.

A pandemia nos trouxe a realidade da comunicação online em tempo integral. Tenho conversado com muitos municípios sobre os desafios na implantação de soluções. Entre as diversas dores, está a incapacidade do ente público em dar respostas à população, e há várias justificativas para isso: inúmeras reclamações e demanda reprimida, falta de recursos e/ou agentes para atender de ponta a ponta, ausência de uma ferramenta online ou mesmo a incapacidade da atual solução em priorizar o que é relevante.

Protagonismo do cidadão 

Os começos são sempre difíceis e, até que se consiga o esperado, há uma série de contratempos. Há várias boas soluções de engajamento onde o cidadão é o protagonista, entretanto, há também aquelas focadas no agente público municipal.

É importante garantir meios de fiscalização, ampliar canais de ouvidoria, compreender que manifestações são lícitas e necessárias. Por outro lado, é fundamental empoderar o agente público com ferramentas capazes de gerar eficiência e transparência. Não é difícil observar agentes municipais realizando serviços sem qualquer registro, quando muito, utilizando um talão de papel ou um checklist manual. Dificilmente isso irá gerar dados concretos para tomada de decisão e prestação de contas.

Uma abordagem eficiente é dar aos agentes em campo a possibilidade de relatar em tempo real o que está sendo realizado, por exemplo, na zeladoria urbana, com encarregados de obras ou fiscais de posturas. Este procedimento coleta dados reais estruturados, promove o monitoramento online das ações, possibilita antever problemas e ainda fornece respostas antecipadas sobre o andamento dos trabalhos.

A população é bombardeada diariamente com casos de insucesso, corrupção e ineficiência pública, é natural estar cansada. Talvez seja o caso de dar ao agente municipal a possibilidade de gerar informações de forma espontânea a partir do seu próprio trabalho. Há tecnologias caras, baratas e gratuitas para isso, mas é preciso alcançar essa percepção e vontade política para agir. Lembre-se de Aristóteles: o objeto principal da política é criar a amizade entre membros da cidade.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities 

Artigos relacionados
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img

Mais vistos