Sudeste do Brasil destaca-se entre as regiões mais afetadas. Proconve 8, que reduz a poluição gerada pelos veículos a diesel, pode salvar milhares de vidas
Mais de 8 milhões de pessoas morreram em 2018 devido à poluição por queima de combustíveis fósseis, como o diesel e o carvão. Isto significa que 1 em cada 5 mortes no mundo teve como causa essa modalidade de contaminação do ar – estimativa significativamente superior à de pesquisas anteriores. A informação é de um estudo publicado hoje (09/02) na revista Environmental Research por cientistas da Universidade de Harvard, em colaboração com a Universidade de Birmingham, a Universidade de Leicester e o University College London (UCL).
Os pesquisadores descobriram que a exposição a partículas provenientes de emissões de combustíveis fósseis foi responsável por 21,5% do total de mortes em 2012, caindo para 18% em 2018 devido a medidas mais rigorosas de qualidade do ar na China. Na América Latina, o estudo identificou que, em 2012, quase 6% das mortes de crianças (747 falecimentos) e cerca de 8% das mortes de adultos (cerca de 180 mil falecimentos) tiveram como causa a poluição atmosférica, percentual semelhante ao de adultos mortos no Brasil por essa razão.
“Quando esses estudos olham para o Brasil, eles observam todo o território, o que pode dar a falsa impressão de que os brasileiros não estão expostos a altos índices de contaminação do ar, mas mais de 80% da população brasileira vive em cidades, que é onde está concentrada a poluição por material particulado oriunda da queima de combustível fóssil”, explica o físico ambiental e professor da USP Paulo Artaxo.
METODOLOGIA APRIMORADA
Como os pesquisadores chegaram a um número tão alto de mortes — 8,7 milhões em 2018 somente por combustíveis fósseis —, se o mais recente Global Burden of Disease Study (o maior e mais abrangente levantamento sobre as causas da mortalidade global) coloca em 4,2 milhões o número total de mortes globais por material particulado no ar, incluindo poeira e fumaça de incêndios florestais e queimadas agrícolas?
Outra inovação foi o modelo de avaliação da ligação entre os níveis de concentração de partículas e os resultados em saúde, desenvolvido pelos professores de Epidemiologia Ambiental de Harvard, Alina Vodonos e Joel Schwartz. Este novo modelo encontrou uma taxa de mortalidade mais alta para exposição às emissões de combustíveis fósseis a longo prazo, inclusive em concentrações mais baixas.
“Com dados de satélite, você está vendo apenas peças do quebra-cabeça”, disse Loretta J. Mickley, co-autora do estudo e pesquisadora sênior em Interações Químico-Climáticas da Harvard John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences (SEAS). “É um desafio para os satélites distinguir entre os tipos de partículas, e pode haver lacunas nos dados”.
“Em vez de depender de médias espalhadas por grandes regiões, queríamos mapear onde está a poluição e onde as pessoas vivem, para podermos saber mais exatamente o que as pessoas estão respirando”, disse Karn Vohra, estudante de pós-graduação da Universidade de Birmingham e primeira autora do estudo.