Programa Start.Health, do Pacto Alegre, selecionou 16 empresas para desenvolverem softwares e equipamentos
Totens instalados nas portas de escolas, abrigos e repartições públicas que fazem reconhecimento facial, medem temperatura por sensores infravermelho e alertam autoridades sanitárias caso haja suspeita de infecção por covid-19. Drones que pulverizam água e cloro em regiões de alta movimentação, como a orla do Guaíba ou o Mercado Público. Softwares capazes de organizar automaticamente escalas em hospitais e postos de saúde, mantendo afastados médicos e enfermeiros com sintomas do coronavírus.
Reconhecido como um dos mais fortes do Brasil, o polo tecnológico da Capital foi acionado pelo Pacto Alegre, movimento que une instituições de ensino, governos, iniciativa privada e sociedade civil, para desenvolver programas e equipamentos que possam ajudar Porto Alegre a combater a pandemia.
O programa Start.Health: Startups vs. Covid recebeu propostas de 60 startups e, em maio, selecionou 16 para avançarem nos testes. As ideias mais promissoras poderão ser financiadas para começar a fornecer tecnologia para governo do Estado e prefeitura.
— As startups mostraram que têm projetos maduros, capazes de ajudar imediatamente a cidade a enfrentar a pandemia — analisa o assessor técnico da Diretoria da Inovação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre, Carlos Aranha, um dos coordenadores do Start.Health.
Nas últimas semanas, os empreendedores selecionados receberam treinamento para ajustar seus produto aos desafios impostos pelo coronavírus. A Pix Force, empresa que usa Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês) para processar imagens em indústrias, fazendas e companhias de energia, adequou seu software para identificar aglomerações. O programa poderá ser rodado na rede de câmeras da prefeitura e da Brigada Militar espalhadas pela cidade, alertando autoridades quando houver grande concentração de pessoas.
— Já temos experiência em captar e interpretar imagens com AI, a única adaptação será “ensinar” as câmeras das forças de segurança a reconhecerem aglomerações e gerarem alerta — detalha o diretor da Pix Force, Danilo Moura.
Outra novidade da empresa é o totem de reconhecimento facial e medição de temperatura. A tecnologia tem sido encomendada por indústrias da região metropolitana de Porto Alegre para serem instaladas nas portas de fábricas — e apenas liberam as catracas quando o empregado está saudável. Nos próximos dois meses, a empresa espera vender mil unidades à iniciativa privada.
— A tecnologia pode ser muito eficiente para controle em estabelecimentos públicos, e a um custo baixo em relação a manter seguranças fazendo a medição da febre manualmente — aposta Moura.
Carlos Aranha esclarece que, após a fase de adaptação, o Start.Health começará a planejar um modelo de investimento para ajudar as startups a escalarem seu produto — ou seja, produzirem em larga escala. Ainda não há prazo estabelecido para esta etapa.
— Talvez seja criado um mecanismo de doações ou crowdfunding para injetar capital nestas empresas, deixando-as preparadas para atenderem a um chamado da prefeitura — afirma Aranha.
Por esta razão, alguns dos projetos do Start.Health fazem parte de um cenário de mais longo prazo para o avanço da doença em Porto Alegre. Ou seja, não seriam usados na fase atual, apenas diante de um agravamento. Um destes projetos é o drone de pulverização de produtos químicos para eliminar focos do coronavírus.
A empresa responsável, a SkyDrones, presta serviço de pulverização de agroquímicos em lavouras. Em testes realizados no Mercado Público e no Parque da Harmonia em março, constatou que seria possível aproveitar no ambiente urbano os mesmos drones, mudando apenas o produto químico. Cada voo pode levar 10 litros de cloro, volume que desinfecta a área de um hectare.
— Quando houve o surto do zika vírus no Brasil, em 2014 e 2015, usamos nossos drones para pulverizar larvicida em ferro velhos. Podemos fazer a mesma coisa se os casos de coronavírus se acelerarem em Porto Alegre — afirma Ulf Bogdawa, diretor da empresa.
Entretanto, ele avalia que ainda não é a hora dos equipamentos voarem pelas ruas de Porto Alegre.
— Como o cloro tem cheiro forte e desagradável a muitas pessoas, seria utilizado em um contexto em que a covid-19 avançasse mais rápido na Capital ou espaços onde houvesse surtos — projeta.