Com mais de 1,1 bilhão de alunos sem aula no mundo todo, o combate ao novo coronavírus (COVID-19) mostra necessidade de utilizar com mais inteligência as ferramentas tecnológicas para ensino
A pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19) já mudou a educação mundial. Para conter o avanço do vírus instituições educacionais públicas e privadas em todo o mundo foram obrigadas a fechar as portas e utilizar as ferramentas tecnológicas disponíveis para criar conteúdo e experiências de aprendizado remoto para estudantes. Um levantamento da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura)* mostra que, atualmente, são 150 países com escolas e universidades fechadas ou parcialmente fechadas. São mais de 1,1 bilhão de alunos afetados no mundo todo. Somente no Brasil, o fechamento das escolas afetou mais de 52,8 milhões de estudantes. Os números correspondem a alunos matriculados nos níveis de ensino pré-primário, primário, secundário e superior.
REDE PÚBLICA
A substituição de aulas presenciais pela modalidade a distância, autorizada pelo Ministério da Educação (MEC)* enquanto durar a pandemia do coronavírus, tem sido a opção da maioria das escolas e universidades brasileiras. O resultado da educação a distância em massa ainda é desconhecido, mas já levanta diversas discussões. Uma delas se refere a dificuldade dos estudantes com pior nível socioeconômico que vão desde problemas de conexão com internet até a falta de equipamentos adequados à aprendizagem remota.
O MEC criou o Comitê Operativo de Emergência (COE) para, de forma integrada, definir as principais diretrizes para a rede de ensino do País, reunir as demandas e buscar soluções para mitigar os impactos da pandemia do coronavírus.
Tatiana Filgueiras, do Instituto Ayrton Senna, destacou, em transmissão ao vivo realizada pelo Jornal Folha de São Paulo, no último dia 06 de maio, que a função da educação de reduzir a desigualdade social será posta a prova agora e que, sem inovação nas escolas públicas, isso não será possível. “Se tivermos uma visão mais inovadora, a gente pode voltar a tratar o tema da desigualdade na educação brasileira, rever, replanejar e redesenhar as escolas de uma forma que a educação seja para todos. Precisamos de políticas públicas que contemplem e entendam que cada um tem uma necessidade diferente”, comentou.
REDE PRIVADA
A experimentação de novas possibilidades de ensino levando o aprendizado para além dos muros das escolas, está acelerando uma mudança já anunciada, mas que ainda encontrava certa resistência. Sônia Barreira, Diretora Pedagógica da Bahema Educação, disse, em entrevista exclusiva ao blog, que as aulas online não eliminarão o ensino presencial, mas o atual momento irá ajudar na utilização inteligente das ferramentas e plataformas da internet. Além disso, a pandemia deixará importantes legados para a educação.
“Com o Grupo Bahema pudemos observar a maneira de lidar com essa crise em dez escolas, de diferentes tamanhos, em diferentes locais do País. Observamos que aquelas que já tinham mais facilidade em lidar com o digital, estão aproveitando melhor as potencialidades da tecnologia para o aprendizado, já as menores tiveram que correr atrás. Não chamamos esse trabalho de EAD ou educação a distância, mas sim, Ensino Remoto Emergencial”, comenta.
Sônia destaca que ainda é cedo para analisar todas as implicações da pandemia e fazer previsões certeiras. “Pode haver desde um certo esgotamento da utilização dos meios digitais, até um melhor aproveitamento. Porém a tendência é que as escolas com projetos mais consistentes na área digital passarão com mais facilidade e manterão algumas mudanças trazidas por esse período dramático”.
Legados da pandemia
Ainda segundo a diretora pedagógica, a pandemia deve deixar importantes legados, entre os quais ela destaca dois: a instauração do ensino híbrido e a revisão de práticas escolares ultrapassadas. “Definitivamente as escolas deverão instaurar a ideia do ensino híbrido, que deixa de ser um projeto piloto e passa a ser uma realidade, com uma articulação mais eficaz das atividades presenciais e ensino a distância. Outro legado importante, será a possibilidade das escolas reverem, de uma maneira muito crítica, certas práticas escolares ultrapassadas, como o sistema de avaliação dos alunos, por exemplo. Mesmo as escolas mais inovadoras têm dificuldade em superar essa visão de que avaliar é simplesmente medir a quantidade de conhecimento que o aluno assimilou. Nesse momento não é possível realizar esse sistema de avaliação, portanto, essa prática pedagógica com certeza será reavaliada”.
Sônia lembrou também que a pandemia irá colocar em pauta o papel do professor e a importância da convivência e do relacionamento no ambiente escolar. “Essa situação, com certeza, trará uma empatia maior com os professores. E é um momento para lutarmos por essa valorização do saber técnico desse profissional. Outro ganho que deve acontecer é a valorização do ambiente escolar. As crianças estão há tanto tempo sem esse ambiente que, na volta, haverá um ganho de relacionamento, de solidariedade e de valorizar o ambiente escolar que faz parte do aprendizado. As crianças e jovens irão reconhecer que uma das coisas mais importantes da escola é a convivência com os outros, a construção da cidadania”, finalizou.
*Fontes: Unesco; Portal MEC; Live – Jornal Folha de São Paulo
Fonte: Urban Systems